sábado, 20 de agosto de 2011

Auto de Contrição

O inferno existe, o inferno está cheio de boas intenções. Isto é o que eu aprendi. Por mais que sejamos bem intencionados, as nossas acções são desgarradas, fogem muitas vezes ao que apelidamos de racional. E viram-se contra nós, fazem de nós marionetas descoordenadas num bailado tétrico e doloroso. Eu pensava que era superior a esta condição. Do alto da minha credulidade vã e infantil pensava que tinha tudo controlado. Mas tal não era verdade...

Pior que sermos reféns dos nosso actos irreflectidos é serem os outros a pagar caro por estes, são penalizados sem que para isso tenham feito algum mal. E penalizamos sempre aqueles de quem mais gostamos quando tomamos atitudes irreflectidas. O que só pode custar mais a engolir.

Se expiação houvesse para tal crime, pelo que infligimos nos outros, seria a de ficarmos encerrados num inferno de auto-comiseração e de lamento. Custa saber que o que fizemos de mal não pode ser desfeito, mas tal é a condição de um adulto responsável. Nestes momentos de pânico e constatação do mal provocado, de nada vale a bondade de coração, ou o vão desejo de querer remediar o que foi feito ou proferido. A palavra dita e a acção tomada são como pedras que voam rumo ao alvo. Por mais que tentemos as desviar da sua rota dolorosa, acabam por embater no sítio mais frágil e provocar dano.