sexta-feira, 21 de junho de 2013

Desejo

O desejo tem muito que se lhe diga. Poderoso aliado da espécie humana na sua demanda de domínio global, é também um das principais calamidades nas vidas de homens e mulheres por esse globo fora.

Algumas das maiores empresas foram originadas no desejo de um homem por uma mulher, ou por outro homem, porque não. Não obstante, e como dos fracos não reza a história, existem inúmeros relatos dos mais estapafurdios feitos em nome da atenção sexual por parte de outrem.

Vede as pequenas grandes tragédias vividas no anos formação pessoal e escolar, em especial durante a fase do ensino superior e que geralmente envolvem copiosas doses de álcool e outros estupefacientes. Não admira que assim lhe chamem, pois é sob o seu efeito (das referidas substâncias) que acontecem das mais estúpidas e disconexas narrativas que podemos imaginar. Mas nada parece bater um calor na zona pélvica, assunto sobre o qual agora verto alguma da minha atenção.

O sexo é das melhores coisas que se podem fazer. Mesmo quando é mau não deixa de ser bom, pelo que me dizem. Não sei se chega a tanto, mas eu não me vou fazer dono de tal verdade.

O que interessa para a discussão é que quando o fazemos, parece que estamos em contacto com o divino. Acredito que resida aqui algum do medo que a Cristandade pretende nos incutir no espírito em relação às intimidades carnais. Se somos seres que se sentem menos terrenos quando amamos carnalmente o próximo (ou próximos, para quem tem essa sorte), que necessidade teríamos de religião organizada ou práticas hierquizadas que só parecem visar o engrandecer de certos egos? A vossa resposta será tão acertada quanto a minha.

Por ser este momento em que nos transcendem, em que nos sentimos menos como outra estatística e mais como uma pessoa completa - ou em que simplesmente exercemos o ímpeto da carne fraca de acordo os nossos instintos mais primários - o desejo sexual é das forças mais fortes, mais entorpecentes, mais competentes da natureza. A racionalidade, por mais elevada ou refinada que seja, fraqueja.

Reside aqui alguma da frustração que tenho em me sentir tão básico e subjugado pelo desejo, quando o mais sensato e racional seria afastar-me do fruto proibido e usar a energia que ainda passou em algo mais construtivo e positivo. Como ir além da paixão, do desejo, da canalidade? Especialmente quando esta está de mãos dadas com a racionalidade de se procurar aquela pessoa que nos completa e nos faz exaltar, nos leva aos píncaros dos sentidos e aquela pequena réstia de paz interior que conseguimos alcançar sem nos tenhamos que vergar à disciplina austera da espiritualidade?

Serei o único que se inquieta com esta dualidade, esta luta titânica entre o que deve ser e o que ardentemente desejamos que seja? Duvido!

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Apologia do egoísmo.

Todos somos egoístas. Talvez eu seja já mais que a maioria. Talvez não. O que me interessa realmente é saber se estou a ter uma dose saudável de egoísmo ou apenas estou a prejudicar os demais.

Ninguém poderá responder a isto sem saber o que se passa. Em traços gerais: o amor é fodido. A ideia não é nova. Há alguma literatura a versar sobre esta hipótese. Eu só posso testemunhar que, efectivamente, assim parece ser.

Auto-comiseração e paneleiradas à parte, eu sou gajo sensível e sensato. Tento sempre fazer o meu melhor por não melindrar as pessoas com quem convivo. Às vezes, é doentio, de uma forma pouco lógica de evasão ao confronto. Mas esta vertente budista da minha pessoa sofre um revés no que toca ao foro íntimo e sentimental. Tento sempre evitar confrontos e mal estar, mas acabo sempre por conseguir o oposto. Às vezes protesto em medida inferior e tardiamente. Noutras, peco por excesso e por antecipação. O resultado acaba por ser semelhante. Merda.

Quem me conhece sabe que evito abusar do vernáculo, mas neste momento não me consigo conter. Estou farto de cenas mal resolvidas e que sobram para mim. Quero ser egoísta. A vida custa a todos, eu sei disso. Na maior parte das vezes opto por facilitar as coisas. Mas quando se torce demasiado, é complicado regressar ao estado inicial. Gera-se mal estar. Eu ando cansado de investir em relações, a custo de pessoas e situações que prezo bastante, para mais tarde ver a relação redundandar num falhanço. Porque não posso eu ter sucesso? Será pedir demasiado? Fui assim tão má pessoa numa encarnação anterior? Ou serei fraco de mais, aguento pouco a trampa que nos é atirada à cara? Sinceramente não sei!

O que sei é estou farto de ser quase feliz. Estou farto de que me dêem a palmada nas costas, que me digam que sou espectacular, que mereço melhor sorte ou melhor companhia, que lamentam as coisas serem assim. Eu quero isso tudo. Acho que já mereço há muito! Exijo que tal aconteça. O meu egoísmo, a minha felicidade e sentido de satisfação não podem ficar por menos.