segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Interlúdio.

A todos os que lêem este espaço: não se alarmem! Nestas dezenas de meses, mais de 48, que mediaram entre o meu último post, e este, não cometi o suicídio através de facas rombas ou frascos de medicação fora de prazo. Aliás, se fosse para ter acontecido, tinham tido tempo mais que suficiente para saber de mim.

Como não consumo anti-depressivos, não poderia cair no cliché de rock star e cometer um sucídio por overdose acidental de álcool e substâncias alvo de prescrição médica. Não tenho essa veia narciscista, não sou assim tão artista (!) e não tenho plafond financeiro para essas aventuras. Nem vontade, o que me parece ser o factor crucial, talvez.

Antes, a minha situação emocional/afectiva teve uma volta de 180 graus, mais coisa menos coisa - para parafrasear alguém que ganhou fama na Internet -  e atravesso uma fase de, não sei se estará fora de moda dizê-lo, felicidade! Sim, que coisa chata, o gajo agora é feliz e deixou de escrever coisas deprimentes e, igualmente, bonitas espero eu. - dirão alguns de vós.

Como tal, este blogue passará a ser alvo de posts ocasionais sobre assuntos diversos, divagações igualmente epifânicas, mas à escala pequena, e com conteúdo - espero eu - bem mais alegre, animado e, quem sabe (?), pedagógico! Também, mais triste e deprimente seria complicado de atingir com a minha personalidade...

Agradeço ao grupo de pessoas, que leram este espaço, a atenção dedicada ao mesmo e espero que a nova linha editorial vos prenda igualmente ao que irei escrevendo por aqui.

Bem-hajam!.

Também não me atirei de uma ponte ou pontão à beira-mar. Sei nadar e tenho vertigens, não ia ser agradável e acabaria por ficar apenas molhado. Para que conste: sujeito da foto não sou eu. É um senhor que não conheço e que, sem que eu lhe pedisse, pousou para a foto enquanto observava uma tempestade cruzar o horizonte. Um grande bem-haja ao generoso senhor, porque sem ele a foto não era nada de especial!

sábado, 8 de março de 2014

Mas amanhã não será véspera desse dia.

Gostaria de um dia poder falar normalmente contigo. De conviver na perfeita ignorância de quem se está a conhecer. Mas amanhã não será véspera desse dia.

Gostaria de poder olhar para ti e não me sentir mal. De não ter que afastar o olhar, ou fazer de conta que não ouvi o teu nome. Mas amanhã não será véspera desse dia.

Gostaria de poder ler algo teu, contemplar uma foto ti ou mencionaste sem que isso me custe. Mas amanhã não será véspera desse dia.

Dizem que o tempo tudo cura, mas não sei se há tempo suficiente na minha vida para te poder olhar, ouvir ou sentir sem que algo em mim grite a plenos pulmões.
Gostaria de poder dizer que tudo está bem. De te poder fazer sentir que não tens influência sobre os meus pensamentos e o meu sentir. Mas amanhã não será véspera desse dia.

Gostaria de conseguir agir normalmente, completamente alheio às feridas que ainda mal começaram a cicatrizar. Gostaria de me perdoar por ter te amado tanto. Por me ter ferido tanto. Por te ter deixado algures num momento que passou e que nos seguintes já eras outra pessoa. Mas amanhã não será véspera desse dia.

domingo, 19 de janeiro de 2014

divagações de um coração dorido

logo quando estava a me sentir melhor, tinha que voltar! penetrante, atordoante. custa a respirar. tolda a visão. que estúpido, não devia acontecer novamente! pensei que já tinha tudo passado. afinal volta, subrepticiamente sem que dê por ela.

a dor é romba e espalha-se. impede-me de voltar a pensar. como um mergulho que demora demasiado e com agulhas que começam esfaquear os pulmões. pesa sobre o peito, dói. é como se estivesse submerso nas coisas coisas que passaram e que esqueci. mas não esqueci!

 tanta coisa que preferia me lembrar, e é isto que ficou gravado no inconsciente.
o melhor é continuar a fazer de conta que já passou. é isso, ignora... faz de conta que não sentes.

é forte de mais para enfrentar de frente. curioso, de tantas coisas fortes que se canta e escreve, nunca julguei que esta fosse das mais potentes. a dor que só se sente sem ferir o corpo. só fere a alma. grito por dentro e calo por fora. é isto que sentem os loucos? que sem pudor partilham o seu desconforto. será?

foda-se esta merda toda.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Vazio de ideias

Não vai voltar a ser o que era... Não há como. Sofro só de pensar. Pode até voltar a acontecer que viva momentos semelhantes. Mas a confiança, a paz, a inocência de tudo o que é bom e saudável perdeu-se.
O coração estremece no escuro da noite, no silêncio esmagador da ausência da tua respiração. O teu corpo velado na luz pardacenta e nos dedos da escuridão não mais será verdadeiramente meu. O teu coração não mais guardará o que o meu lhe transmite da mesma forma. Quero tudo para mim e sofro por não o poder ter.
Triste é aquele que viveu na fartura e agora tem que ser contentar com doses racionadas. Infeliz o que teve por inteiro e agora é forçado a dividir.
Estas linhas escrevo apenas na busca da catarse. Mas de pouco me servem. De que parco consolo me servem palavras atiradas ao vento no pico da minha insatisfação. A verdade é que o que foi não torna a ser. O entusiasmo dá lugar ao receio. O êxtase à frustração. O prazer converte-te em pequenas dores semeadas num campo de coisas quotidianas.
Sonho com os tempos que já foram, com as alegrias que já vivemos, os segredos e coisas só nossas que partilhámos. Cruel é o despertar, encarar a chegada do dia que irrompe pelo horizonte sem a esperança de outrora. Apenas pequenas centelhas de luz restam da grande fogueira. Marcadas pela luz que já passou e que se gravou na retina, mas que por comparação não iluminam mais que uma vela que definha. Definha também o meu espírito aos poucos com ela. Sem esperança não há mais nada.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Inacabado

Sigo por uma corredor de copas escuras e profundas. A linha de horizonte é uma difusa e nebulosa silhueta. Nas minhas costas, a luz escasseia. Trevas seguem no meu encalço. O meu olhar fita o derradeiro objectivo. As passadas são pesadas mas com uma cadência rápida. O ar ainda não está pesado, escorre pela garganta e acalma o fogo que arde nas entranhas. O peito dilata e contrai.
A luz ao fundo do túnel de verdura, formado pelas árvores e vegetação rasteira que adornam a vereda, não esmorece. Mas sinto uma urgência em lá chegar.

Os ruídos da floresta não me inquietam. Noutras condições, até seria um passeio bem agradável.
Ela está do outro lado, à minha espera. O meu passo não abranda, não há tempo a perder. Vislumbro a luminosidade que me guia, um farol de esperança.
Em breve estarei na presença da minha musa. Viverei as suas benesses. Em breve conhecerei a paz e a abundância.

De repente, sou empurrado para fora do caminho. Uma força brutal impele para longe do que desejo. Vislumbro um olhar escarlate envolto na sombra. Luto com a força que me resta, e mais alguma que desconhecia possuir. Mas não chega!
Sou empurrado novamente. Levado à submissão. Garras dilaceram a minha pele, o calor do vermelho irrompe pela minha derme. Deixo de ver com clareza. Sinto que me roubaram o norte.

Silêncio e negritude. O meu coração galopa contra as costelas. Faço um esforço descomunal para voltar a ver. Inalo um bafo quente e que cheira inimigos caídos. São dentes a rasgar carne. A minha carne... A realidade é desligada de mim. Mergulho no abismo negro e surdo. Estava quase lá. Com a minha recompensa nos meus braços. O seu doce aroma, a sua suave carícia. Mas nunca vou lá chegar...

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Desejo

O desejo tem muito que se lhe diga. Poderoso aliado da espécie humana na sua demanda de domínio global, é também um das principais calamidades nas vidas de homens e mulheres por esse globo fora.

Algumas das maiores empresas foram originadas no desejo de um homem por uma mulher, ou por outro homem, porque não. Não obstante, e como dos fracos não reza a história, existem inúmeros relatos dos mais estapafurdios feitos em nome da atenção sexual por parte de outrem.

Vede as pequenas grandes tragédias vividas no anos formação pessoal e escolar, em especial durante a fase do ensino superior e que geralmente envolvem copiosas doses de álcool e outros estupefacientes. Não admira que assim lhe chamem, pois é sob o seu efeito (das referidas substâncias) que acontecem das mais estúpidas e disconexas narrativas que podemos imaginar. Mas nada parece bater um calor na zona pélvica, assunto sobre o qual agora verto alguma da minha atenção.

O sexo é das melhores coisas que se podem fazer. Mesmo quando é mau não deixa de ser bom, pelo que me dizem. Não sei se chega a tanto, mas eu não me vou fazer dono de tal verdade.

O que interessa para a discussão é que quando o fazemos, parece que estamos em contacto com o divino. Acredito que resida aqui algum do medo que a Cristandade pretende nos incutir no espírito em relação às intimidades carnais. Se somos seres que se sentem menos terrenos quando amamos carnalmente o próximo (ou próximos, para quem tem essa sorte), que necessidade teríamos de religião organizada ou práticas hierquizadas que só parecem visar o engrandecer de certos egos? A vossa resposta será tão acertada quanto a minha.

Por ser este momento em que nos transcendem, em que nos sentimos menos como outra estatística e mais como uma pessoa completa - ou em que simplesmente exercemos o ímpeto da carne fraca de acordo os nossos instintos mais primários - o desejo sexual é das forças mais fortes, mais entorpecentes, mais competentes da natureza. A racionalidade, por mais elevada ou refinada que seja, fraqueja.

Reside aqui alguma da frustração que tenho em me sentir tão básico e subjugado pelo desejo, quando o mais sensato e racional seria afastar-me do fruto proibido e usar a energia que ainda passou em algo mais construtivo e positivo. Como ir além da paixão, do desejo, da canalidade? Especialmente quando esta está de mãos dadas com a racionalidade de se procurar aquela pessoa que nos completa e nos faz exaltar, nos leva aos píncaros dos sentidos e aquela pequena réstia de paz interior que conseguimos alcançar sem nos tenhamos que vergar à disciplina austera da espiritualidade?

Serei o único que se inquieta com esta dualidade, esta luta titânica entre o que deve ser e o que ardentemente desejamos que seja? Duvido!

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Apologia do egoísmo.

Todos somos egoístas. Talvez eu seja já mais que a maioria. Talvez não. O que me interessa realmente é saber se estou a ter uma dose saudável de egoísmo ou apenas estou a prejudicar os demais.

Ninguém poderá responder a isto sem saber o que se passa. Em traços gerais: o amor é fodido. A ideia não é nova. Há alguma literatura a versar sobre esta hipótese. Eu só posso testemunhar que, efectivamente, assim parece ser.

Auto-comiseração e paneleiradas à parte, eu sou gajo sensível e sensato. Tento sempre fazer o meu melhor por não melindrar as pessoas com quem convivo. Às vezes, é doentio, de uma forma pouco lógica de evasão ao confronto. Mas esta vertente budista da minha pessoa sofre um revés no que toca ao foro íntimo e sentimental. Tento sempre evitar confrontos e mal estar, mas acabo sempre por conseguir o oposto. Às vezes protesto em medida inferior e tardiamente. Noutras, peco por excesso e por antecipação. O resultado acaba por ser semelhante. Merda.

Quem me conhece sabe que evito abusar do vernáculo, mas neste momento não me consigo conter. Estou farto de cenas mal resolvidas e que sobram para mim. Quero ser egoísta. A vida custa a todos, eu sei disso. Na maior parte das vezes opto por facilitar as coisas. Mas quando se torce demasiado, é complicado regressar ao estado inicial. Gera-se mal estar. Eu ando cansado de investir em relações, a custo de pessoas e situações que prezo bastante, para mais tarde ver a relação redundandar num falhanço. Porque não posso eu ter sucesso? Será pedir demasiado? Fui assim tão má pessoa numa encarnação anterior? Ou serei fraco de mais, aguento pouco a trampa que nos é atirada à cara? Sinceramente não sei!

O que sei é estou farto de ser quase feliz. Estou farto de que me dêem a palmada nas costas, que me digam que sou espectacular, que mereço melhor sorte ou melhor companhia, que lamentam as coisas serem assim. Eu quero isso tudo. Acho que já mereço há muito! Exijo que tal aconteça. O meu egoísmo, a minha felicidade e sentido de satisfação não podem ficar por menos.