quinta-feira, 4 de julho de 2013

Inacabado

Sigo por uma corredor de copas escuras e profundas. A linha de horizonte é uma difusa e nebulosa silhueta. Nas minhas costas, a luz escasseia. Trevas seguem no meu encalço. O meu olhar fita o derradeiro objectivo. As passadas são pesadas mas com uma cadência rápida. O ar ainda não está pesado, escorre pela garganta e acalma o fogo que arde nas entranhas. O peito dilata e contrai.
A luz ao fundo do túnel de verdura, formado pelas árvores e vegetação rasteira que adornam a vereda, não esmorece. Mas sinto uma urgência em lá chegar.

Os ruídos da floresta não me inquietam. Noutras condições, até seria um passeio bem agradável.
Ela está do outro lado, à minha espera. O meu passo não abranda, não há tempo a perder. Vislumbro a luminosidade que me guia, um farol de esperança.
Em breve estarei na presença da minha musa. Viverei as suas benesses. Em breve conhecerei a paz e a abundância.

De repente, sou empurrado para fora do caminho. Uma força brutal impele para longe do que desejo. Vislumbro um olhar escarlate envolto na sombra. Luto com a força que me resta, e mais alguma que desconhecia possuir. Mas não chega!
Sou empurrado novamente. Levado à submissão. Garras dilaceram a minha pele, o calor do vermelho irrompe pela minha derme. Deixo de ver com clareza. Sinto que me roubaram o norte.

Silêncio e negritude. O meu coração galopa contra as costelas. Faço um esforço descomunal para voltar a ver. Inalo um bafo quente e que cheira inimigos caídos. São dentes a rasgar carne. A minha carne... A realidade é desligada de mim. Mergulho no abismo negro e surdo. Estava quase lá. Com a minha recompensa nos meus braços. O seu doce aroma, a sua suave carícia. Mas nunca vou lá chegar...